Gatilhos Literários para a Morte?

13 Reasons Why é nada mais e nada menos que uma série original da nossa tão amada Netflix, que teve uma grande repercussão e muitas criticas negativas. Ou seja, pessoas que gostam de opinar sobre tudo, mesmo sem saber exatamente de nada. 
É engraçado o fato das pessoas que estão dizendo que a série é um gatilho para as pessoas que estão fracas mentalmente, serem exatamente as mesmas pessoas que dizem: Hanna Backer era apenas mais uma que queria se aparecer.
Isso me levou a questionar quem realmente era o gatilho. E queridos leitores, com toda certeza não é a série. 

O livro que originou a série é " Os Treze Porquês" do autor Jay Asher, ele foi publicado inicialmente em 2007, mas só foi adaptado para o Brasil em 2009. 
Muitas pessoas que assistiram a série, não tinha noção da existência desse livro antes, mas eu já. Havia o lido em 2011 na minha escola, e além de mim, muitos outros alunos que frequentavam a biblioteca o leu também. A sua capa e seu nome são bem chamativos, quase impossível passar despercebido e em nenhum momento, nem nós alunos, nem a bibliotecária e nem os diretores da escola, viam o livro como um gatilho para algum dos alunos que poderiam ler. Tanto que ele ficou lá por todos os anos em que estudei na escola e provavelmente  ainda deve estar, mas hoje bem mais chamativo do que nunca. 

O que leva uma pessoa a achar que um livro como esse e como todos os outros sobre automutilação sejam um gatilho para alguém se matar? 

Hanna Backer não foi uma adolescente diferente das que existem espalhadas pelo mundo inteiro, não foi o primeiro caso de suicídio e infelizmente não foi o último. O livro do gênero ficção, nada mais é do que a maior realidade já relatada na literatura. Mas as pessoas elas são tão cegas para certas coisas, que elas somente enxergam que o problema do suicídio é falar sobre o suicídio. Será que para elas o problema do estupro é por falarmos sobre ele também?

Eu, como escritora de um livro sobre automutilação e suicídio me vi obrigada a dar a minha opinião sobre o assunto, e eu sei que falar sobre isso nunca foi um gatilho, eu nunca me senti tentada a tirar a minha vida, ou a me machucar, por simplesmente ler que essa era uma opção. As pessoas dizem: não era uma opção. Era, infelizmente se matar é uma opção, talvez a última que as pessoas encontraram para se livrar da dor que o mundo causou em seus corações. 
Infelizmente muitas pessoas morrem diariamente por não conseguirem conviver com a indiferença, bullying, violência física, espiritual, sexual e entre outras que nem mesmo quem passa sabe como descrever. 

O autor Jay Asher não escreveu o livro com intenção de que os leitores se matassem depois de ler, muito pelo contrário, ele queria que os adolescente como Hanna Backer fossem salvos, que fossem escutados e que as pessoas não se tornassem Os Porquês de pessoas reais se matarem. E ele conseguiu isso, ele conseguiu tocar a gente, nos fazer enxergar que existem pessoas ao nosso redor que precisam de ajuda. Abriu o olhos, tanto de quem pratica o bullying quanto da pessoa que o sofre. 

Disseram que a protagonista não teve outras opções, talvez ela realmente não tivesse, porque as pessoas não deram outras opções a ela, porque ela mesma não foi atrás de outra opção. E isso é a mais pura verdade, e querer esconder isso e nomeá-lo um gatilho é só mais um forma de dizer: Suicídio é para se aparecer.

Se aparecer para quem? Para a morte? 

No meu livro, em nenhum momento eu deixei a transparecer que a automutilação e o suicídio era a única opção, mas eu deixei bem claro, que foi sim uma opção para a protagonista, assim como é para as pessoas que pensam nesses atos.Mas eu dei outras opções a ela, mostrei para cada pessoa que leu o livro que assim como a protagonista, eles também haviam outras opções e com toda certeza, a de se matar não era a melhor. E isso fez com que eu os ajudassem, com que eles se identificassem com a garota e se reencontrassem juntamente com ela. 

E é isso que acontece, é isso que tem que ser. Não existe essa de Gatilhos literários para a morte, e mais do que nunca devemos falar sobre o assunto, mais do que nunca devemos abrir os olhos de todas as pessoas e fazerem elas se reencontrarem.